Quero meu quarto bagunçado, a casa o cabelo.
Quero os remédios, as doses, erradas, um? Não, dois, quem sabe três? Passa mais rápido.
Tiro a roupa, desligo a luz, calcinha e sutiã. A luz da rua, iluminando o quarto.
Alguma balada, mais um cara que canta e diz que é mais um cara correndo na direção contraria.
A dor na cabeça, o calor no corpo.
Vou te ligar dizer que quero dormir com você. Não quero transar com você. Quero deitar ao seu lado, sentir teu corpo gelado no meu quente, quero suas mãos nas minhas costas, quero você acordado vinte e quatro horas. Olha-me enquanto durmo. Conte minhas pintas, minhas manchas, minhas dores e magoas- seria preciso mais do que vinte e quatro horas.
Está vendo? Está vendo o que eu poderia ser? Poderia ser uma vadia com apenas uma ligação, estou sempre a um passo de tudo, até mesmo de ser uma vadia. Poderia te seduzir, ter deixar roxo, dolorido e ir embora, dizer adeus ou até mais.
Mas também as coisas poderiam mudar, olho para cima, minha cama pequena diz que preciso de companhia, meu quarto arrumado diz que eu preciso de bagunça e meu coração vazio diz que eu preciso de amor.
Fecho os olhos. Dor. Dor. Dor. Sabia que poderia ter aumentado à dose do remédio, por que não aumentei?
A campainha soa me visto cadê a blusa? Coloco.
Escuto errado. Era do vizinho. Jogo-me na cama.
O cobertor parece mais macio sobre a pele nua. A dor continua, os olhos latejam, o calor aumenta.
A mesa cheia de livros, os óculos jogados sobre os livros, celular, caneta, caderno, CPF.
O guarda roupa que por fora parece lindo por dentro é desorganizado.
Sou eu. Sou eu. Um guarda roupa desarrumado.
Na gaveta da saudade várias lembranças de coisas que só importaram para mim. Na gaveta do amor a indiferença. E na gaveta das mentiras, todas as verdades.
Eu disse. Eu disse. O guarda roupa está desorganizado. Por fora parece bonito. É bonito. É bonita! E é bonita!
Eu sei. Perdi sete quilos. Não. Não. Não foram em duas semanas, é mentira das revistas aquilo não existe. Perde sete e na outra semana ganha catorze.
As fotos na caixa. Mas deveriam está no mural. Sim eu sei. Então por quê? Porque eu não gosto dos olhos que me enxergam. O que? Eles ficam me olhando quem me garante. Garante-te o que? Que estão felizes por me ver. Quem? As fotos. As fotos. Rimos. Rimos? Eu e quem? Eu e o silêncio do quarto, eu o silêncio dos bichos, da cidade, da noite, dos amentes fazendo sexo, dos casados cansados, dos namorados fogosos, das encalhadas choronas, e das loucas os monólogos. Na cama vazia o sonho que se confunde com pensamentos que toma vida, que não respeitão a nossa imaginação. Já aconteceu com você? O que? Quando você imagina algo e no pensamento, quando você constrói do jeito que você queria, fica maior do que você planejou, parece que tem vida própria. Entendeu? Sim. Outro dia pensei em como queria minha casa e no meu pensamento as paredes nunca ficavam brancas. Que coisa. Sim. E ficavam de que cor? Verde. Verde? Sim. Gosto de verde. Eu também. Então as deixe verde. Sim, não tem outro jeito.
Sono vem ou já veio e eu já vou. Não sei parece que falo com alguém. Alguém que não conheço e essa é a hora que não sei se é verdade ou se é mentira. Tento pegar o celular, mas não alcanço. Amanhã as horas irão se esconder. Mas estarei bem à dor terá ido embora. Meu coração vai ficar acelerando o dia inteiro, foram os remédios. Não podia ter aumentado à dose. Sim devia. Não.
Calor. Algo sobre as gavetas e uma ligação faz parte do meu último pensamento.
Sim, telefone dentro da gaveta.
O que? Não sei. Não sei.
8 comentários:
as paredes nunca são brancas, exceto quando estou de olhos abertos e o silêncio é a forma vulgar das palavras presas, do próprio branco e dos monólogos, também.
abstrato.
deitar , observar , levantar e viver.
As vezes é preciso um pulo a menos ou um a mais .
Teu texto é lindo, gostei em demasia (:
das desorganizações da vida, seja de objetos, seja de alma...
bjo!
"e meu coração vazio diz que eu preciso de amor."
Texto cheio de pedaços interessantes.
Gostei *;
" guarda roupa que por fora parece lindo por dentro é desorganizado.
Sou eu. Sou eu. Um guarda roupa desarrumado.
Na gaveta da saudade várias lembranças de coisas que só importaram para mim. Na gaveta do amor a indiferença. E na gaveta das mentiras, todas as verdades. "
Não preciso dizer mais nada diante de suas palavras, Hoje em dia o No Recreio é um dos blogs que mais adimiro, e quando eu crescer Lu que saber escrever como você!
Este foi o texto mais perfeito que já li, não somente aqui mais em qualquer outro blog, estou sem palavras para dizer o quanto me identifiquei.
Bonita for fora, mas por dentro? Está tudoi uma grande confusão, roupas - sentimentos - jogadas, misturadas, rasgadas...
É incrivel, incrivel, era tudo que eu não precisava ler,. era tudo que eu PRECISAVA ler.
Nós sempre podemos arrumar as nossas bagunças não é? Vou tentar arrumar as minhas, talvez eu coloque cada roupa no cabide certo, talvez, talvez...
Oi Lu, nossa.... Fazia muito tempo q eu não lia seu blog. Aliás, faz mto tempo mta coisa O.O
Enfim... Adorei o texto, achei muito bonito ^.^ Até me identifiquei um tiquinho...
Bjos mil, saudades =**
Fantástico! Simplesmente... FANTÁSTICO!
Nada realmente é como parece ser. Simples. Bem simples. Não. Nada simples. Complexo. Não. Nada complexo. Normal. Sim! Normal. Até por que se ser certinho é ser normal, que partamos em direção ao caos de nós mesmos, pois é lá onde encontramos o conforto para fugir da mesmice desse mundo que fica cada dia mais chato.
Beijo!
Delírios???
Talvez...
Gostei do texto!!!
Bjs
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