sábado, janeiro 15, 2011

A distância.

Hoje quando você acordar vai ser um lindo dia. Por que eu pedi pra Deus. Cada dia antes de dormir eu agradeço por você respirar e depois como quem não quer nada desejo que sua roupa no varal não molhe que o trânsito não te prenda que você não se esqueça de tomar as suas vitaminas. Às vezes também peço para que seus medos não te empeçam de voar em direção aos seus objetivos. Espero que você esteja bem. Porque eu também peço isso pra Deus e mesmo antes de pedir eu já agradeço, pois sei que ele me escuta, sempre. Sei que não deveria olhar as tuas fotos, ver como está o seu cabelo e ver como ganha rugas, como está amadurecendo, as espinhas sumindo e o cabelo perdendo a cor. Reparei que está perdendo peso, que está mais alvo, mais forte, mais jovem. Parece que você anda contra o tempo. Parece um vinho bom, é um vinho bom. Mais velho melhor. E com o passar dos dias te admiro por amar, por continuar amando e por ser só dela. Daquela mulher que sempre vejo sorrindo ao seu lado nas fotos. Sei que o casamento está marcado, até que em fim irá casar, estava na hora. Agora você vai comprar as alianças e depois vai lá fazer o pedido, vocês vão ficar meses planejando o casamento, a festa, o vestido, as madrinhas. Depois irão ver a casa, ficar horas escolhendo as cores e pisos para a casa e ela vai dizer que piso preto na cozinha é melhor, mais bonito e suja mesmo. Você vai ri e dizer que ela não vai precisar limpar o chão que vai contratar uma empregada e ela diz que só vai aceitar isso se for uma empregada bem velha, mas você retruca dizendo que se for velha não vai conseguir fazer quase nada, então ela diz “nós vamos cuidar da casa vamos dividir as tarefas” você faz cara feia, ela sorri e você aceita, como recusar depois daquele sorriso? E no dia do casamento você vai chorar antes de entrar na igreja, está feliz, radiante e não vê a hora de a sua mulher futura esposa entrar de branco, linda, mais linda do que o costume. Pensa que é até de mais para o seu caminhão casar com uma mulher tão maravilhosa como aquela, mas depois sabe que Deus é bom por que além de ela ser maravilhosa ela te ama e você a ama também. Na hora do aceito você grita o “sim”, todos na igreja riem menos o padre, pois ele toma um susto. Na saída, seu cabelo fica cheio de arroz são tantos os grãos que até mesmo depois da festa quando estão no quarto de algum hotel bem caro em algum lugar que você nem faz questão de lembrar o nome, ela ainda acha grãos de arroz no seu cabelo. Você ri e ela sorri. No outro dia você a apresenta para a família “Oi família essa é a minha esposa” todos riem da sua cara de bobo, todos já sabe disso, sabem que você está feliz. Que ela está feliz. Que vocês são felizes.

Depois de sete anos de casados, você vai chegar à cozinha e dizer olá família, naquela mesma cozinha que tem o piso preto e que sua esposa limpa todos os dias, ela complexada, ama limpeza e ela mesmo que limpa, você quase nunca está em casa e quando está ela prefere que fique descaçando com ela e com os seus filhos, são três, um menino e duas meninas, gemias.

As duas têm seus olhos, castanhos escuros e no sol os olhos delas ficam claros, às vezes parecem o próprio sol. O menino puxou a mãe é moreno e tem o cabelo enrolado, mas isso puxou dos dois, pois você tem o cabelo enrolado e a sua esposa também, mas o menino tem o jeito alegre, sempre sorrindo, sem manha, e não sai de perto das irmãs. Esse vai ser um irmão coruja. Igual à mãe que é muito coruja.

Então um dia você vai até a casa dos seus pais para o almoço de domingo e tem vontade de entrar no seu antigo quarto, um quarto que se falasse, nossa! Iria contar tantas coisas, como daquela fez em que você trouxe uma garota e vocês ficaram ali juntos, pela primeira vez, o amor. E depois de dez anos ainda está com aquela garota, agora mulher, hoje sua esposa e mãe de seus filhos. Senta-se na cama e passando os olhos pelo antigo quarto percebe que tem algo de baixo da mesa, algo repleto de poeira. Vai até lá e pega. Puxa e é uma gargantilha com um pingente: um coração azul. Você então vai se lembra vagamente de uma música “ E nosso amor é azul como mar, azul.” Pensa naquela dupla que cantava essa música, pena que acabou, gostava deles. Vai se lembrar de quem lhe deu, do rosto, da história ou pelo menos de alguma parte dela. Tenta lembrar o nome de quem lhe deu aquilo que usou apenas um mês, mas não consegue. Desiste. Então deixa gargantinha lá em cima da mesa empoeirada. E lá o coração azul fica, desbotado, mas azul. Um azul que nem a poeira do tempo conseguiu encobrir e nem desbotar muito menos enfraquecer, o mar ficou sujo e poluído, e o amor não é mais azul como mar. É apenas azul. Não sabe nem se o amor é azul e muito por que continuaria a ser azul, já que nem amor existe. Sai do quarto e volta pra sua vida.

Eu vou colocar a mão no meu coração e meus dedos tocaram o azul. O meu coração azul com a sua letra gravada nele. Pena que não tivemos tempo de gravar a minha letra no seu coração, porque naquele dia teu celular tocou e tivemos que ir embora as presas e você me prometeu “depois voltamos aqui para gravar a sua letra no meu”. Não voltamos. Minha letra não ficou no seu coração azul muito menos no vermelho do lado esquerdo.

8 comentários:

Cynthia Brito disse...

Oh, que fantástico, dá vontade de ler várias vezes, rs.

Beijos, Lúh **
Bom fim de semana!

Thalita disse...

Eu li sua postagem e depois fiquei imaginando cada coisa que vc descreveu. Adorei a postagem e adoro a música: “E nosso amor é azul como mar, azul.”

beijos

Naia Mello disse...

Tudo passa. A vida é rápida e tudo acaba, até o amor.

Nina disse...

Caramba! Acho que vou ler de novo! Adorei seu post querida! Mil beijinhos!

Gabriela Freitas disse...

Lindo post Lu.

Rebeca Postigo disse...

A vida dá voltas...
Nada é eterno...
As coisas sempre mudam...
Belo texto!!!
Triste...
Porém...
Belo!!!

Bjs

P.S.: Num é sangue não...
Hehehe...

Jéssica Trabuco disse...

Triste, mas um ótimo texto :)

lua b. disse...

Ai lu, que linda essa história, triste mas linda.

Eu to sem pc, mas sempre vou passar aqui (:
beijos :*