quarta-feira, outubro 20, 2010

Léo.

(obs. Continuação do post anterior.)

"Sua fé era forte mas você precisava de provas... ♪"


Caminhou até uma árvore que fica no quintal dos fundos de sua casa, sentou-se, abraçou os joelhos e encostou a cabeça sobre os abraços.
Não conseguia pensar em mais nada, além da própria vida que levava. Sentiu-se egoísta com isso, vontade de sumir de abrir um buraco no chão e se jogar se esconder, se excluir do mundo. Tantas pessoas que passam fome, crianças morando nas ruas e ele com alguns problemas não conseguia manter a sua vida, não sabia mais caminhar, não conseguia olhar para o céu e agradecer a Deus por mais um dia de vida, não conseguia, não sabia mais pedir a Deus por um milagre, não sabia mais...
Sabia que tinha que fazer a sua parte, mas sentia também que estava fazendo o possível e o impossível, estava nervoso com os deuses com Deus ou com qualquer outra força maior. Não tinha mais forças... Não tinha.
Por que deus lhe dera tanto e lhe tirara? Ele não merecia ser feliz? Não poderia? Quando as coisas estavam dando certo, quando sua mente e seu coração estavam se entendendo, quando tudo que queria, tinha. Tinha. Isso doía latejava em sua mente, era como um cutucar incessantemente. Era uma perturbação, uma pedra em seu sapato, uma verdade que estava ali, era o fato e contra fatos não exista argumentos. Estava perdido.
Contraia-se, apertava os joelhos, sentia um nó em sua garganta, uma agonia no peito, os olhos ardiam não aguentava mais chorar, sentia o sangue borbulhar de raiva. Era ódio, era raiva, era uma perca, metade de si havia morrido, mas a outra precisava viver, tinha que cuidar de sua filha, tinha que ter forças, ele tinha uma promessa a cumprir.
Mas como? Como cuidar de um anjinho quando não tem forças para cuidar de si mesmo.
“Ajude-me, tenho que cuidar da minha filha, como irei fazer agora? Preciso de forças, preciso que me guie.”
Sem saber, sem ao menos entender, ele tinha feito um pedido, sentiu um vento batendo em sua face amarga, respirou fundo, pensou nela, o seu amor que agora era uma estrela lá no céu que iluminava o seu coração que agora estava, em partes, na penumbra, porque ainda tinha seu anjinho e aquilo lhe dava forças, motivos para caminhar e sobreviver, o iluminava.
Como a força da luz que volta quando menos esperamos, um pensamento veio.
“a ajuda já foi enviada há cinco anos como pude não enxergar isso?”
Lembrou mais uma vez da face de seu amor e como a filha parecia-se com ela, tinha o mesmo jeito, até quando dormia, ali estava a sua vida, sua fonte de energia, sua razão para viver, para continuar...
Sabia que iria ser difícil, que a ausência da esposa e de uma mãe para filha, seria uma situação difícil de esquecer e de não sentir faltar, mas o que poderia fazer? Tinha que se adaptar.
De repente lembrou-se de um verso que a mãe vivia repetindo pelos cantos da casa quando ele era apenas um guri.
Então se ajoelhou e união às mãos, e ali debaixo daquela árvore antiga começou a sussurrar as palavras, que não sabia como, mas que saiam sem menor esforço de memória.
-Conceda-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras.

Estava sendo ajudado, mas nem ele, e muitas vezes nem nós, sabemos o quanto estamos sendo guiados e protegidos por forças divinas, independente do que acreditamos ou não.



Música:Rufus Wainwright: Hallelujah

5 comentários:

Queremos falar de música! LET'S TALK ABOUT MUSIC disse...

Meu Deus...esse texto é lindo!
E Deus é perfeito!
Gostei mesmo

;*
Marina

Betty Gaeta disse...

Oi Lu,
Queria muito ler e comentar, pois sei que tudo o que vc escreve é lindo, mas estou no serviço com 3 colegas a minha volta atendendo telefones e falando alto. Deve ter umas 15 pessoas aqui na sala onde estou e eu não vou conseguir prestar atenção direito. Vou ver se consigo ler em casa.
Bjkas e uma ótima 4ª-feira para vc.

http://gostodistonew.blogspot.com/

Anônimo disse...

Espero que ele esteja bem,
é complicado ler estas palavras e não se comover...
lindas palavras !

Anônimo disse...

O fato é que na hora do pior aperto e do pior alcance da escuridão, a pessoa ainda consegue encontrar iniciativa para ao menos tentar. Escreve muito essa Menina. Beijos!

Betty Gaeta disse...

Oi Lu,
Ainda sem conseguir ler, pois estou no serviço ...
Bjkas e uma ótima 6ª-feira para vc.

http://gostodistonew.blogspot.com/