quarta-feira, março 09, 2011

Essa é a Maria Eduarda Cardoso do Amaral

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Quando pequena a mãe batizou- Maria, minha filha!- gordinha desde sempre, olhos escuros e o pai dizia – como pode? Olhos pretos não existem só castanhos- e a mãe completava- mas bem escuros.

Maria quando começou andar subia em qualquer coisa- Maria, não suba no fogão!- ela virava e ficava brava e essa sua fama de brava se perpetuou- Mel- o tio chamava- é tão doce essa menina que enjoa- o tio resmungava enquanto Maria chorava toda vez que ele lhe dava um beijo-baba baba- Maria dizia- mas na verdade a barba do velho Tico lhe arranhava.

Mel, como ficou o apelido de infância, arranjava briga fácil, aos 10 anos já havia sido expulsa de cinco escolas- Não sei mais o que faço com você Maria Eduarda Cardoso do Amaral- a mãe dizia e ia logo passando pano na mesa enquanto Maria, sentada de cabeça baixa dizia- Mas mamãe a senhora tem que entender, ele que começou!- a mãe nem escutava mais suas desculpas, sempre era a mesma coisa “Maria bateu em uma menina, Maria bateu em um menino, Maria isso, Maria aquilo”- Já pro seu quarto, vá ler! Estudar! Isso sim vai lhe dar um futuro!- a Mãe dizia enquanto começava a fazer o almoço.

Mal humorada essa menina- a avó de Maria dizia- Ela tem a cara fechada, não gosto dela- uma prima dizia- o pai dizia – É assim mesmo- este quase nunca estava em casa e quando estava Maria o escutava aos berros com a sua mamãe- Marlene estás louca?! Jamais teria outra!- sua voz grossa ecoava pela casa grande de dois quartos e um quarto onde Maria brincava, o pai trabalhava e a mãe pintava seus belos quadros. Após as brigas o pai sempre saia e Maria escutava a mãe a chorar.

Nas manhas de aula Maria não sabia em que se concentrar “Como posso querer aprender isso? Se mamãe está sofrendo em casa?”- E Maria fechava a cara, sentava no fundo da sala e por ali... Isolava-se.

Noutro dia chegou a casa e viu que a mãe estava no banho, passando pela porta do banheiro viu a mãe sentava no chão enquanto a água passava pelo corpo, a mãe que um dia tivera um belo corpo estava definhando, estava magra de ver todos os ossos, os cabelos antes compridos hoje estavam mais curtos, desbotados, sem um corte preciso “mamãe está doente?”- Maria teve vontade de fazer essa pergunta em alto bom som, mas se conteve, teve medo da resposta, teve medo do: sim minha filha, irei morrer...

Uma noite enquanto Maria dormia o pai chegou e a mãe aos prantos dizia- Seu cachorro, eu sei que estava com ela!- Maria levantou e viu pai tentando bater na mãe, sem pensar, correu- Não, larga ela!- Maria se colocou no meio dos dois- Sai daqui sua cadela- o pai, não parecendo estar bêbado dizia, Maria com a coragem que Deus lhe deu ali ficou, nem responder aos xingamentos do pai e calando a boca da mãe- fique quieta mamãe, não vês que ele está virado no cão?

6 comentários:

Nina disse...

Que saudades daqui! Faz muito tempo que não passo pelo seu cantinho maravilhoso! O lay tá completamente diferente do que era. Ficou muito bonito!

Bjinhos

Thalita disse...

Algumas vezes, nos deparamos com pessoas que estão sempre, ou quase sempre com a cara fechada e de mal humor, e algumas vezes podemos achar que é por um motivo fútil, mais na verdade, é por um grande problema.
Belo texto!

Anônimo disse...

A história de muitas Marias, Antônias, Joanas, Alessandras, Anas, Fernandas, Adelaides, Cristianas, e etc, etc, etc...

Cynthia Brito disse...

Ah, esta estória tem um toque especial. Aliás, muito a ver comigo. Minha infância inteira eu odiava ir a escola (mesmo tentando me concentrar, até porque eu adorava estudar) e ter que deixar minha mãe em casa a chorar, isolada, sem ninguém. Ou melhor, eu sei que ela tinha Deus e tem até hoje, se não o tivesse não estaria viva.
Mas é muito comum isto. Muitas amigas minhas compartilham deste toque especial comigo. Talvez esta estória não seja real nem baseada em fatos reais, mas fico feliz por compartilhá-la comigo, e com todos os outros leitores que cá vem.

Beijos, Lúh, e leva o selinho oficial do meu blog!

Com amor,
|Cynthia|

Rebeca Postigo disse...

E quantas Marias não há nesse mundo???
Belo texto!!!
Amei!!!

Bjs

Gabriela Freitas disse...

A historia de muitas mulheres...