segunda-feira, agosto 02, 2010

Quando a saudade me visita, significa que é hora de visitar os fantasmas.

Era sábado à noite e estávamos no sofá. Eu com os meus dedos passeava pelo seu braço de tom moreno, insistia em arrumar um pêlo que persistia em ficar ao contrário dos outros, te disse que “esse é era o revoltado" e você apenas respondeu “Não, os outros que são", sorri um pouco sem graça por não ter pensado dessa maneira e continuei a caminhar. você como um menino que tem medo do escuro e se junta à mãe, se encaixava em meu corpo como se fosse milimetricamente feito só para isso, me completar”.

Estranho como depois de tantos anos eu ainda tenho a sombra daquele sorriso em minha boca, mesmo você não estando mais aqui para me completar e me fazer sentir sem graça, por dar bronca naquele pelo, o único que estava certo.
Eu sei que você foi embora e que, creio eu, a não ser pelo pisca- pisca de esperança que tenho, que você não vai mais voltar. Mas de vez em enquanto eu gosto de me engar, e pensar que o que o horóscopo diz: “um amor do passado vai retornar", é você! Vou dormir com essa ilusão e acordo com outro 'eu' em mim, um 'eu' que sentia tanta saudade de estar no presente, um 'eu' que gostava de sair de um pequeno quarto que eu o prendi junto com o “amor que tenho por você". Levanto nesse dia e caminho pelas ruas da cidade na esperança ansiosa de te encontrar por ai, de virar e esbarrar em você, de libertar minhas borboletas que a tempo não voam, de sentir meu coração bater mais rápido e meu sangue pulsar em minhas veias. Mas a esperança, quando é falsa traz a desilusão, e ela tem um gosto amargo. Com o resultado de não encontrar você, de só vez por outra confundir o seu rosto com o de outro alguém. Sabendo que você não vai voltar e que outras mãos caminham pelo seu corpo.

A minha vida nunca foi tudo isso, cheia de maravilhas e sucesso, era algo comum e bom de levar, às vezes, as coisas não iam bem e outras eram pura sorte. Quando conheci você, algo no meu cérebro mudou e um sentimento no meu coração cresceu. A minha vida não se encheu de sorte ou ganhei na loteria, ainda tinha o azar e sorte andando comigo. Mas não importava se perdi o emprego ou se não levei a blusa de frio, não me interessava o estresse, o transito, a chuva ou frio. Eu estaria encaixada em você no final do dia e minhas mãos iriam caminhar pelos caminhos, já conhecidos, do seu corpo. Então, estava tudo bem.

Mas nada disso seria mais possível. Somente as lembranças seriam acessíveis.
Dentro de mim algo morreu quando você parou de me amar. Algo em meu coração novamente cresceu, uma capa protetora, que abafa o amor que sinto por ti e uma nova pessoa nasceu uma que não acredita mais que um passado poderia um dia se repetir, que o sentimento do amor pudesse realmente voltar a existir. Não, não acreditava.

Logo você, que era a minha música preferida, foi embora, e tudo perdeu a graça.

Era como ficar no escuro. Tive que aprender a caminhar em ruas e praças desconhecidas cobertas pelo breu. Aprendi com falta de luz, ir tateando as coisas pelo caminho, às vezes me divertia, mas sempre que imaginava como você faria ou lidaria com isso. Por isso tornava-se algo interessante... Só de pensar em você e no ‘se’.

Mesmo com uma capa, para me proteger desses sentimentos e broncas de que “... Ele não te merece...", eu me arrisco em abrir uma porta secreta no meu coração todas as vezes que saudade me visita. Pego a chave no bolço do meu jeans gasto e abro a porta, entro em uma sala grande aonde fantasmas vem em vão...

"Era domingo e você me chama, apareço na janela com um sorriso e um coração disparado. “Espera ai”. Levo-te para sala onde nos abraçamos e ficamos dançando sem querer, uma música antiga de um cd que era da minha mãe... Dançamos meia hora sem perceber. Eu, encantada com você, me perdia em cada gesto seu, em cada palavra que sussurrava em meu ouvido e em cada abraço. Jogava-me em um abismo de sentimentos...”.

Em meu subconsciente estou na minha sala secreta vendo os nossos fantasmas felizes.
Me pego sorrindo em uma rua deserta, acima de mim, um céu pálido e sem vida.
Então tranco a porta, pego a chave e a guardo no seu lugar de sempre. O bolço do Jeans.
E continuo a caminhar. Mesmo sendo uma rua e não seu corpo.
Saiba que nunca esquecerei os atalhos das suas costas e braços, pernas e mãos.
Que minhas mãos vão percorrer só o seu corpo... Só o seu.
... Sendo sempre só sua.

9 comentários:

Luiza Fritzen disse...

Nossa, esse teu texto, carrega um pedaço meu. me fez sentir uma coisa intensa, uma lembrança doida. ficou deveras, muito bom.
"Mas a esperança, quando é falsa traz a desilusão, e ela tem um gosto amargo." ótima frase. beijos

Luria Corrêa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luria Corrêa disse...

Lu, realmente fiquei tensa com o texto, me pareceu muito familiar o modo como você o escreveu, e me fez imaginar algumas cenas já conhecidas.

"Levanto nesse dia e caminho pelas ruas da cidade na esperança ansiosa de te encontrar por ai, de virar e esbarrar em você, de libertar minhas borboletas que a tempo não voam, de sentir meu coração bater mais rápido e meu sangue pulsar em minhas veias."Me confortou, intrigantemente.

Adorei muito o texto. Tirou o fôlego.

bejs :D

Larissa Lins disse...

"Por isso tornava-se algo interessante... Só de pensar em você e no ‘se’."

Minha primeira vez em seu blog, e já devo elogiar o seu texto. Obrigada por ter colocado em palavras coisas que eu também sinto. É sempre bom quando nos reconhecemos nas histórias de mais alguém, mesmo sendo uma característica um pouco egoísta. O que importa é que seu texto foi lindo e sincero, romântico e também profundo. Meus parabéns pela delicadeza e pela entrega.

Voltarei aqui!

Betty Gaeta disse...

Oi Lu,
Que texto lindo e triste. Espero que vc não tenho vivido isto, e se tiver vivido, se dê uma chance para lapidar uma vivência como esta e aprender um lição com ela, mas jamais guarde-a intacta em seu coração, pois só ficará incomodando e ferindo cada vez mais.
Bjkas e uma ótima semana para vc.

Anônimo disse...

E eu ainda leio seu blog, sempre.






Dream-Thief. ;)

Karine Melo disse...

Tuas palavras deixam a gente assim, com o coração palpitando e na mão.

Lindo demais!

beijos, Lu ;*

Amanda Arrais disse...

The ghost of a good thing...

A nostalgia parece aparecer pra nos pregar peças quando menos esperamos. Esperar pra esquecer exige uma paciência sobrehumano, ainda mais quando pensamos que aquilo nunca vai acontecer, mas acontece...
Boa sorte e lindo texto. =*

Larissa Lins disse...

Nem precisa agradecer. Estou te seguindo pra voltar e comentar mais vezes mesmo, gostei daqui.